Todas as histórias têm um princípio e esta começou em Avanca, no Lugar de Pensal, em 1923, pelas mãos do professor Egas Moniz. Neste local, que acabou por dar origem ao nome de alguns produtos, nasceu a marca Nestlé. Ninguém imaginaria no que ela se tornaria no futuro, mas uma coisa era certa, o legado estava destinado a prevalecer.
Hoje, com sede em Linda-a-Velha, onde alberga mais de mil pessoas, a marca conta com mais de 2 mil e quinhentos colaboradores na sua estrutura total e é um dos maiores nomes no mercado, a nível nacional e internacional.
E como dizia o poeta: “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. Um século depois de principiar as suas atividades em Portugal, a Nestlé deu início a uma nova era rumo à sua transição energética com o projeto Green Fleet, na procura de um futuro cada vez mais sustentável. A história continua a prevalecer.
A Nestlé Portugal comemora este ano o seu centésimo aniversário. Um marco para todos aqueles que integram ou integraram esta multinacional. É importante sublinhar que, apesar da Nestlé possuir as suas marcas globais, produz também muitas marcas para o seu mercado local, marcas essas desenvolvidas com um único objetivo: irem de encontro às necessidades nutricionais da conveniência dos consumidores portugueses.
Objetivo e característica que têm aproximado a marca do consumidor português e que tem refletido, acima de tudo, um nível de confiança elevado comparado com outras congéneres de outros países. Hoje, a Nestlé Portugal, é uma das grandes exportadoras do grupo.
Diversidade de marcas
Toda a estrutura está sustentada pela fábrica do Porto e de Avanca. A fábrica do Porto, especializada em cafés torrados, produz, atualmente, 4 marcas de café: Cristina, Sical, Buondi e Tofa. Foi fruto da expertisedesta fábrica que a Nestlé atraiu, entre 2017 e 2018, duas novas produções muito importantes ao nível internacional: o Nescafé, café torrado premium (anteriormente, apenas solúvel) e uma joint venture perfeita com a Starbucks para produção de café para o mercado retalhista.
A outra fábrica, alicerçada em Avanca, é, por sua vez, especializada em cereais, a sua matéria-prima. Produz, neste momento, uma panóplia de categorias de produtos que vão desde os cereais de nutrição infantil, às bebidas de cereais e snacks biológicos para bebés (esta linha foi criada em 2019 e a sua capacidade exportadora é significativa).
É em Avanca que fica ainda o centro de distribuição (nacional e estrangeiro), por onde passam 90% dos produtos Nestlé. Grosso modo, a Nestlé Portugal exporta mais de 60% daquilo que produz em Portugal, sendo que a unidade Avanca exporta um total de 65% dos produtos, enquanto a unidade da cidade portuense, 58%. Conta com 5 delegações comerciais descentralizadas de norte a sul do país, com uma delegação do Funchal.
Projeto Green Fleet
A par da sua gigante presença no mercado, a Nestlé não esqueceu, nem podia, a questão da sustentabilidade que recai também na frota e, por isso, Alexis Pinheiro, gestor de frota da Nestlé Portugal, abordou nesta entrevista concedida à Revista Automotive, o grande desafio que o Projeto Green Fleet lhes trouxe. “Este projeto tem, na sua génese, a transformação elétrica total da nossa frota de ligeiros de passageiros. De forma simples, a frota da Nestlé em Portugal é dividida entre ligeiros de passageiros (500 veículos, sobretudo, de equipa de vendas) e ligeiros de mercadorias (100 veículos).
A nossa política passa por, anualmente, abrirmos um concurso com o objetivo de realizarmos uma seleção das respetivas marcas parceiras para o ano seguinte. Esta é uma rotina perfeitamente implantada na empresa: concurso, seleção e trabalho, escolhendo sempre a marca segundo critérios como: consumo e autonomia (preponderante na decisão da frota), segurança e preço.
Por isso, o projeto Green Fleet tem tanto de grandioso como de desafiante. Desde o início, teve o apoio integral de toda a direção, envolvendo, como não podia deixar de ser, a equipa de sustentabilidade. Nunca duvidámos que era possível dar o pontapé de saída a esta transição desde que as pessoas assumissem a mudança. Mas para que este processo fosse leve e fluído – já que as mudanças nunca são pacíficas – passamos, inclusive, a fazer parte da associação UVE (Utilizadores de Veículos Elétricos), cujo papel tem sido fundamental no suporte a esta evolução, também ela de mindset.
Formação
Investimos na formação das equipas, tendo como apoio a presença da UVE, das próprias marcas e locadoras – a quem adquirimos os veículos -, pois não compramos os carros diretamente às marcas. A sinergia nesta transição de paradigma tem sido muito positiva entre todos os intervenientes, algo comprovado pela última formação que a Nestlé promoveu junto dos nossos colaboradores, e que foi desenhada especificamente pela Renault com vista às frotas.
Como soubemos desde o começo, estas mudanças necessitam de ser muito bem estruturadas para não terem um impacto negativo. É importante perceber que as pessoas veem o carro como um benefício e isto implica uma maior exigência por parte delas quando vão receber um veículo novo.
Preocupamo-nos em gerir as expetativas dos nossos colaboradores, tal como ditam os pilares da marca, pilares esses: as pessoas e famílias, comunidade e planeta (nunca perdemos de vista a redução da pegada de CO2 que, na última década, situou-se nos 42%). Mas a nossa preocupação vai ainda mais longe quando o assunto é a sustentabilidade. A energia elétrica comprada pela Nestlé Portugal tem a sua origem 100% renovável certificada.
Fazendo jus a este espírito, a escolha das frotas de ligeiros de passageiros e ligeiros de mercadorias – que se caracterizam por carrinhas de auto venda para entrega de produto ao cliente final – só podiam ser escolhidas tendo por base este objetivo, adaptado aos objetivos concretos de cada uma, já que servem por um lado a equipa corporativa e, por outro, as equipas de vendas (colaboradores que visitam os clientes, fazendo quilómetros diários).
Impacto
Se com toda a experiência adquirida, e depois de aprovado o Projeto Green Fleet, em 2020, temos aprendido quer com os erros, quer com os acertos, também é verdade que ganhámos uma certeza: não há volta atrás neste processo de eletrificação automóvel. Portanto, temos consciência que encetamos um caminho deveras desafiante no que respeita ao grau de exigência na adaptação do comportamento das pessoas, ou seja, na forma como agora têm de conduzir, como passarão a abastecer, como se locomoverão com o veículo em contexto laboral e em contexto familiar.
Trata-se de um impacto transversal, nunca apenas um impacto que atinge um único sector da sociedade. Assim, com base neste conhecimento, trabalhamos junto das pessoas a mudança, promovendo, como já mencionámos, a formação, uma escolha adequada das viaturas e a primazia pelos melhores veículos.
Claro que o investimento da Nestlé nesta transição energética é grande, sobretudo, porque os carros elétricos com uma boa autonomia são muito mais caros que os carros a combustão, mas vivemos estes novos tempos com ousadia e coragem, enfrentando, com otimismo, as dificuldades inerentes a todo este processo de encomendas de frotas, tal como o fizemos com a experiência vivida no ano de 2021, onde a derrapagem nos prazos de entrega foi enorme. Para se ter uma ideia, continuamos, em pleno ano de 2023, a receber carros encomendados naquela altura.
Prosseguimos, assim, firmes em direção ao objetivo proposto para o ano de 2025, objetivo esse que implica uma frota totalmente elétrica e uma aposta fortíssima na rede interna de carregamento de Wall Boxes, na própria casa dos colaboradores, por exemplo. Neste caso, sublinho que somos o primeiro contrato com a Galp para instalação de Wall Box’s em casa de colaboradores no âmbito DPC (detentor de ponto de carregamento), ligado à rede MOBI.E.
Rede de carregamento
Encontramo-nos a fazer ajustes no planeamento de entrega das viaturas e calculamos que, até final deste ano, nos sejam entregues mais 300 carros elétricos, o equivalente a 75% da frota (e que deviam ter chegado de forma mais desfasada). Neste momento, temos 76 carros 100% elétricos (15% da frota ligeira de passageiros) e 33 veículos híbridos (7% da frota), contabilizando, aproximadamente, 70 postos de carregamento até ao final de 2025, dos quais 42 estarão disponíveis na sede, 12 no Porto, 8 em Avanca, 4 no Funchal e 4 em Loulé.
Trata-se de um investimento acima dos 200 mil euros, sem referirmos o diferencial das viaturas, como sabemos, muito superior e muito mais sentido nos primeiros anos do projeto. Este ano, esperamos que seja um ano de aproximação e que esta percentagem se reduza, gradualmente.
Estamos também muito satisfeitos com o facto dos primeiros carros 100% elétricos terem começado a chegar às mãos das equipas de venda, com a particularidade de termos vindo a ajustar as rotas, repensando-as para as adaptar o melhor possível a esta nova realidade. Ainda não temos dados que nos permitam dizer até que ponto as rotas se tornaram, mais ou menos, otimizadas, mas já iniciamos a ação com vista a essa organização.
Quanto aos furgões, estes não estão esquecidos. Dos 100 furgões que temos (5% da frota) estamos a avaliar as opções futuras, sobretudo para perceber se, nos anos vindouros, conseguiremos avançar com a substituição total destas viaturas para modelos 100% elétricos, já que esta tipologia de viaturas apresenta ainda uma autonomia inferior ao que precisamos. Os nossos furgões percorrem mais quilómetros todos os dias do que os nossos ligeiros de passageiros, além do que, transportam também muito mais peso, dois fatores que influenciam na autonomia quando estamos a avaliar as versões 100% elétricas.
Ainda nos mantemos expectantes face ao mercado neste aspeto, esperando que cheguem melhores recursos tecnológicos que nos permitam dar solução às necessidades que possuímos”, enfatizou Alexis Pinheiro, gestor de frota da Nestlé Portugal.