A TransAnatolia tem-se tornado uma referência no panorama mundial dos ralis. Este ano, o número expressivo de participantes comprova essa tendência: marcaram presença 125 pilotos de 13 países, incluindo Itália, França, Inglaterra, Holanda e também Portugal. A Revista Automotive esteve também presente e acompanhamos a partida da cidade de Samsun, e as etapas de Tokat e Sivas.
Portugal esteve representado na prova pelo piloto Rui Gonçalves (foto abaixo) na categoria de motos, que nos brindou com a liderança da prova nas etapas iniciais da corrida, à frente de 36 concorrentes. A FIA também se fez representar de observadores oficiais, prova da crescente importância desta competição.
Estando na sua 13º edição, a TransAnatolia contou este ano com uma rota única para comemorar o 100º aniversário da República Turca. O percurso começou na industrializada cidade de Samsun e terminou em Izmir, seguindo os vestígios da Guerra da Independência Turca.
Diversidade de veículos e género
A TransAnatolia, a primeira e única corrida de rali cross-country da Turquia, é disputada em cinco categorias – Motos, Quads, Buggys, Automóveis e Camiões. Todos os anos é preparada uma nova rota para a corrida, e a competição leva os participantes a percorrer alguns dos locais naturais e históricos mais importantes da Turquia.
Na prova deste ano, que reuniu pilotos amadores e profissionais, surpreendeu-nos o número de mulheres participantes. Havia um grande contingente feminino nos jipes (piloto e navegadora), seguido pelas motos, e até uma equipe totalmente feminina nos camiões, ao volante do gigante da Tatra! Desde turcas a holandesas, a presença feminina enalteceu a prova.
Embora os percursos da TransAnatolia sejam caracterizados por terrenos altamente rochosos que alternam com estradas de terra, areia e etapas de alta velocidade, também proporcionam aos participantes vários encontros com locais históricos, partilha de conhecimentos e momentos inesquecíveis. Mas, o mais importante, é a oportunidade única de uma melhor compreensão do estilo de vida do povo turco.
Estilo de vida
Um pouco por todo o lado sente-se prosperidade nas cidades. Respira-se segurança, sem, no entanto, existir presença policial ostensiva. As pessoas, locais ou estrangeiros, vivem descontraídas, convivem saudavelmente entre si e a diversão não se faz através do puro consumismo, algo que para nós europeus é coisa que só nos lembramos de vivenciar nos anos 90.
Enquanto jornalistas, não tivemos quaisquer impedimentos. Foi possível fotografar sem restrições todos os locais onde estivemos e fazer as perguntas a quem quer que fosse. Ao contrário de outros países daquela região, não é necessário visto para se entrar no país., sendo possível circular entre cidades sem os chamados checkpoints militarizados e não há controlo de identidades de forma ostensiva, como ainda ocorre em outros países daquela região do globo.
Mesmo em cidades menos turísticas como foi o caso de Tokat e Sivas, o panorama é o mesmo: segurança, prosperidade, limpeza, harmonia e convívio saudável. As estruturas viárias estão acima do expectável, e até em cidades localizadas mais no interior do país, encontrámos semáforos “inteligentes”, que funcionam de acordo com o fluxo das viaturas.
Bem-estar nas estradas
Outro aspeto que nos surpreendeu pela positiva: as estações de serviço. Há por todo o lado e são de qualidade, inclusive em percursos como de Tokat a Sivas (passando pela Turquia mais profunda), encontramos estações de serviço muito bem estruturadas, com todos os serviços.
As paisagens da região são muito similares ao Alentejo português, o que nos deu um grande sentimento de pertença, facilitado ainda mais pela cultura turca do consumo do café, algo parecida com a nossa.
Diferentemente do nosso país, e no que toca a infraestruturas aeroportuárias, os turcos contam hoje com estruturas aeroportuárias de topo. O aeroporto de Istambul, por exemplo, é magistral, quer em dimensões, quer na qualidade da construção e serviços. Também Sivas – uma cidade praticamente no meio do “nada” – conta com um aeroporto muito bem estruturado e digno.
A Turquia é assim muito mais do que um país “apenas” baseado no turismo dos resorts e praias paradisíacas, ou com megacidades cosmopolitas. Descobrimos que há localidades longínquas com o seu encanto, prosperidade e uma propensão para a qualidade, seja ela nos produtos, negócios ou até nas relações interpessoais. Uma herança cultural que convida a ser vivida e apreciada, bem de perto.