A MSC Cruzeiros realizou um grande evento no âmbito da escala inaugural do MSC Euribia, no Terminal de Cruzeiros de Lisboa, que contou com a presença do staff da MSC Cruises e diretores da MSC Cruzeiros em Portugal; bem como membros do governo, autoridades públicas, convidados e agentes de viagens.
Na conferência de imprensa e cerimónia de boas-vindas, o staff da MSC Cruises deu a conhecer mais informações sobre este imponente navio; os compromissos de sustentabilidade da companhia e, ainda, as novidades para o verão 2024, com principal destaque para os cruzeiros portugueses com embarques e desembarques em Lisboa e no Funchal. De seguida, foi realizado uma “ship tour” pelo navio, onde a Automotive pode conhecer em mais detalhe, a amplitude e os encantos do ambiente a bordo.

O MSC Euribia é o 22.º navio da frota da MSC Cruzeiros, com 19 decks, 43 metros de largura, 2.419 camarotes e 35 mil mts2 de área pública.
Segundo a companhia, este é o navio de cruzeiro com maior eficiência energética do mundo, sendo o segundo navio da MSC Cruzeiros a ser movido a LNG (Gás natural liquefeito), o combustível marítimo mais limpo atualmente disponível em escala. O navio dispõe de uma variedade de tecnologias e soluções ambientais de vanguarda, que minimizam o impacto atmosférico e no ambiente marinho, incluindo sistemas avançados e tratamentos de águas residuais e gestão de resíduos.
O MSC Euribia completou uma viagem com zero emissões de gases de efeito estufa de Saint-Nazaire a Copenhaga, beneficiando das reduções de emissões permitidas pelo bio-LNG e pela aplicação de abordagem de balanço de massa. A inscrição #SavetheSea, pintada no exterior do casco, celebra a dedicação contínua da MSC Cruzeiros ao mar e o seu compromisso de alcançar zero emissões até 2050.

Biocombustíveis
Em entrevista à Automotive, Eduardo Cabrita (foto), diretor geral da MSC Cruises Portugal destacou que “este é o nosso segundo navio movido a LNG, sendo que o primeiro foi o World Europa. Os navios são projetados com 10 anos de antecedência e, à época da sua construção, o LNG já existia, mas não estava a ser utilizado nos navios de cruzeiro.
A evolução tecnológica nos navios de cruzeiro leva o seu tempo, e por isso mesmo os navios que estamos a projetar hoje deverão, daqui há uma década, serem abastecidos com hidrogénio. Ainda não existe tecnologia de hidrogénio para utilização plena nos navios, mas a verdade é que há 10 anos também não existia tecnologia de LNG para os navios e assim, a MSC Cruises tomou a iniciativa de avançar com este projeto, em conjunto com os nossos parceiros.
O nosso objetivo é aumentar a frota a LNG, até porque o motor Wärtsilä que utilizamos no Euribia pode circular tanto com LNG, como com biocombustíveis e combustíveis sintéticos (MGO – Marine Gas Oil). Mesmo dentro do que é o LNG, destaco que fizemos a primeira viagem de cruzeiro com emissões de carbono zero, pois circulamos com Bio-LNG na viagem inaugural de Saint Nazaire até Copenhaga.

A plena utilização dos biocombustíveis, demonstra ainda alguma fragilidade na oferta. Por exemplo, o Bio-LNG ainda não está disponível em escala suficiente para abastecer um cruzeiro. No nosso caso, comprámos 400 toneladas de Bio-LNG, utilizando as reservas existentes em França e no norte da Europa.
Importa salientar que existem cerca de 350 navios de cruzeiro no mundo, mas navegam mais de 100 mil navios comerciais ativos em todos os mares, frota que necessariamente vai ter de encontrar combustíveis alternativos, seja o LNG ou outros. A sustentabilidade na navegação é um fator central na nossa empresa, mas ainda é preciso melhorar as estruturas portuárias, o fornecimento e o abastecimento em grande escala com combustíveis alternativos.

Retrofitting
Do ponto de vista técnico, o Euribia dispõe de tanques próprios para o LNG que ocupam mais espaço do que os tanques convencionais. Contudo, também utilizamos tanques convencionais para a propulsão a diesel, no caso de haver algum problema no sistema LNG. Apesar de recente, estamos muito satisfeitos com esta tecnologia LNG que tem se mostrado bastante fiável e eficiente, pois os atuais motores a LNG estão preparados para trabalhar por 20 ou mais anos.
Também estamos a realizar investimentos na nossa frota de cruzeiros, na implementação da função “plug-in” (denominado short-power) onde os navios ligam-se à rede de eletricidade dos portos para que, quando estejam aportados, possam desligar os seus motores e operar unicamente com eletricidade da rede. Realço que essa funcionalidade “plug-in” está a ser instalada nos outros navios de cruzeiro da frota da MSC, pelo que estamos a proceder ao retrofitting dos nossos navios.

Falta de infraestruturas
Os nossos navios de cruzeiros adaptaram-se rapidamente às novas tecnologias e combustíveis, mas o mesmo não se verificou com as infraestruturas. Neste momento, somente 4% dos portos mundiais têm capacidade de disponibilizar o short-power, embora existam cerca de 72% de navios de cruzeiros com capacidade de ligação à eletricidade. Em 2028 serão mais de 80% e, em 2030, toda a frota de navio de cruzeiro estará preparada para esta função. Agora, é preciso investimento na infraestrutura portuária e nos portos de cruzeiro.
Tais como outros portos, o porto de Lisboa tem a previsão de estar preparado para o short-power apenas em 2028. A União Europeia terá coimas para os navios que não utilizem o short-power O problema é que, se em 2030, um navio que aportar sem utilizar o short-power, estará sujeito a pesadas coimas, mesmo que seja porque o porto não tenha esta funcionalidade. Por isto, as empresas proprietárias e gestoras de navios cruzeiros estão a sensibilizar diversos países, para investirem na infraestrutura de carregamento elétrico para os navios.

Naturalmente que estamos atentos à origem da produção, e temos como exemplo o caso da Madeira, onde 50% da eletricidade já é gerada através de fontes renováveis. A dificuldade das ilhas, sejam elas a Madeira, Açores ou outras, é a capacidade de gerar energia suficiente para abastecer os navios de cruzeiro.
Veja-se o caso das ilhas Canárias, que são um destino de cruzeiros muito importante, e que têm tido dificuldades energéticas (que inclusive declarou em 2023 o Estado de Emergência Energética por não ter eletricidade suficiente para abastecer o normal funcionamento das ilhas, NDR).
O mesmo passa-se com o abastecimento de LNG. Os itinerários deverão ser escolhidos consoante a possibilidade de abastecimento dos portos. Por exemplo, este navio Euribia consegue navegar com LNG cerca de 3 semanas sem abastecer. Lisboa não tem a capacidade de abastecer navios com LNG.
Os circuitos turísticos passarão assim pelos portos que estiverem mais bem preparados para o uso do LNG. De um modo geral, os portos ainda estão muito atrasados na transição energética. Claro que há também aqueles que estão na vanguarda, como é o caso de Marselha ou de Hamburgo, tanto no abastecimento de LNG como na função short-power”, finalizou Eduardo Cabrita.
