Sebastian Figueroa, Executive Director da Scania Ibérica, em entrevista à Revista Automotive realizada em Madrid, conta-nos os desenvolvimentos da empresa no ambiente tecnológico, bem como as soluções da Scania para os clientes nacionais.
“Começo por fazer um breve balanço de 2023, que foi um ano positivo em muitos aspetos. Quanto aos números da Scania, a Automotive já os divulgou na edição anterior e por isso, ressalto outros dois aspetos relevantes do ano.
O primeiro foi a decisão da Scania de realizar um grande investimento em construir novas instalações na região de Lisboa. São cerca de 12 milhões de euros que nos permitirá dispor de instalações modernas na zona da Castanheira do Ribatejo, com previsão de estarem prontas no início de 2025.
O segundo aspeto é que estamos muito próximos de estabilizar as entregas de camiões. Este era um tema que muito nos preocupava, porque desde a pandemia que não tínhamos um fluxo normal nas entregas aos clientes. Entramos no ano de 2024 com grandes melhorias nesse aspeto. Estamos confiantes de que esse processo se irá normalizar no segundo semestre de 2024, apesar de sabermos das complexidades das guerras e conflitos que ainda estão a ocorrer.

A sustentabilidade faz parte do presente
A Scania tem um caminho traçado para a descarbonização e que começa logo nos seus motores diesel. A recém-lançada gama Scania Super tem poupanças de combustível na ordem dos 10% o que é uma redução imediata das emissões, com impactos positivos na rentabilidade dos nossos clientes. Além disso os camiões Super podem funcionar com HVO que é um biocombustível que reduz em 90% o CO2.
O departamento de inovação da Scania, tem historicamente trabalhado no desenvolvimento de novas tecnologias. E isso reflete-se no nosso portfólio de produtos que é cada vez mais abrangente no que diz respeito às tecnologias, sejam elas híbridas, 100% elétricas, a hidrogénio, biocombustíveis ou combustíveis sintéticos.
Acreditamos que a melhor alternativa energética deve ser analisada caso a caso. Nos camiões nunca houve uma solução única que funcionasse para todos os clientes e, com as propulsões alternativas, isso mantém-se. É preciso manter a proximidade com os clientes, para avaliar qual tecnologia proporciona o melhor TCO para a sua operação em específico, estando certo de que a Scania terá a solução tecnológica adequada.
O importante também é ser capaz de acompanhar os clientes na transição energética, para que seja uma transição suave do ponto de vista da operação, mas firme do ponto de vista da sustentabilidade ambiental.

O futuro das tecnologias
É preciso refletir que, quando falamos de mudanças tecnológicas, dependemos muito da legislação e dos incentivos de cada país e de cada continente. Há muitas diferenças entre a Europa, a América Latina, América do Norte, Asia ou até África. Mesmo dentro da Europa, assistimos a velocidades diferentes, por exemplo, no que diz respeito à infraestrutura de carregamento elétrico.
O que a Scania está a fazer é desenvolver todas as tecnologias possíveis, para que, dependendo da situação de cada país, tenhamos a melhor solução.
Prova disso é que construímos em Södertälje (Suécia) uma fábrica de baterias, onde investimos cerca de 3 mil milhões de euros. Sabemos que uma vez que comece a economia de escala da produção dos camiões elétricos, os preços estarão mais ajustados, mas para isso acontecer há que começar a transição energética nas frotas.
Creio que todos estamos de acordo que é necessário um transporte mais sustentável. Como fazê-lo? Essa é a solução que a Scania pretende disponibilizar aos seus clientes, caso a caso.

Acompanhamento no pós-venda
Finalizamos 2023 com 60% das vendas de camiões a terem um contrato de manutenção associado. O nosso número histórico era de 40%. Esse crescimento permite-nos objetivar para 2024 alcançarmos um valor de 70%, sejam os camiões diesel, a gás, híbridos ou elétricos.
Preconizamos os contratos, mas não esquecemos dos clientes que não têm contrato de manutenção. Para esses, que têm oficinas próprias, realizamos ao longo do ano várias campanhas de pós-venda, para que sintam acompanhados pela Scania durante a vida útil dos seus camiões.
No entanto, insisto que o melhor para os clientes são os contratos de manutenção. Quem melhor conhece os seus produtos é a marca. E digo isto não só para os camiões novos, mas também para os que estão em circulação. Por exemplo, quando vem um camião à nossa oficina, atualizamos o software da caixa de velocidades, do motor e de outros componentes.

A evolução tecnológica não é só feita nos camiões novos, mas também nos que circulam. A Scania procura constantemente ter os melhores camiões em termos de consumos e isso aplica-se aos novos e aos em circulação, mesmo que tenham 10 anos. Como produzimos caixas de velocidades, eixos motrizes e motores, não dependemos de fornecedores externos para aprimorar e atualizar os nossos produtos.
O contrato de manutenção é a melhor solução para os clientes. Quer pela sua cobertura, pelo seu aspeto preventivo e pela minimização do tempo de inatividade dos camiões dos clientes. A conectividade dos camiões Scania permite-nos chegar a um pormenor muito grande, o que facilita em termos de prevenção e ainda mais nas novas tecnologias.
O investimento na preparação das oficinas para a mobilidade elétrica tem sido avultado. Rondam de 50 a 100 mil euros por oficina. Como temos 65 pontos de serviço a nível ibérico, percebe-se o investimento que estamos a fazer, mas é necessário para dar aos nossos clientes o melhor suporte à mobilidade elétrica.

Serviços financeiros
Para além das soluções tecnológicas, temos também soluções financeiras. E nesse ponto, já chegamos aos 40% de vendas em 2023 através da nossa financeira. Nos serviços financeiros estamos bem-adaptados à mobilidade elétrica. Por exemplo, na venda de um camião elétrico, há que incluir a infraestrutura de carregamento (quer os carregadores, quer a parte de construção civil), e a nossa área financeira suporta toda essa operação. Por essa razão, afirmo que acompanhamos os nossos clientes na transição energética e esse acompanhamento é em todas as vertentes.
Estamos também a financiar serviços: uma reparação de motor, um camião sinistrado, entre outros. Disponibilizamos condições de até 6 meses sem juros. A vantagem de uma financeira de marca é que, perante as flutuações do mercado, consegue disponibilizar soluções mais estáveis porque entende o negócio dos clientes Scania.
Perante uma situação menos boa de uma empresa, os bancos tipicamente cortam crédito. Nós conhecemos os clientes e sabemos que, muitas vezes, uma situação financeira menos boa de um cliente pode significar que está a investir em melhorias da sua operação e tal irá trazer os seus frutos em breve. Ou até momentos menos bons da conjuntura económica geral, a nossa financeira esteve sempre a apoiar os nossos clientes. Isso é muito importante, ainda mais com as novas tecnologias.

Perspetivas para 2024
No que diz respeito a volumes, esperamos um ano similar ao de 2023, e talvez até possamos subir um pouco pelo sucesso da geração Super. Temos clientes de outras marcas que querem os camiões Scania Super, mas até ao momento, não conseguíamos atender a esses clientes pela questão que mencionei sobre a dificuldade nas entregas. Com a normalização, poderemos crescer com esses clientes. Nos serviços, estamos a crescer cerca de 20 a 30%, o que para a Europa é bastante positivo e prevemos manter.
Claro que há sempre pontos onde podemos melhorar. Por exemplo, o Scania Driver Support, que já ronda os 65% de resultado médio. Isto significa que, a nível ibérico, os motoristas (em média) estão a utilizar apenas 65% do potencial de poupança dos camiões Scania. O potencial dos nossos camiões pode ser ainda mais bem explorado e isso será uma das prioridades neste ano de 2024.
Em termos de lançamentos, posso já dizer que teremos o camião 100% elétrico para o transporte regional, onde acreditamos ser o melhor do mercado, com 350km de autonomia. Mais para o final do ano, teremos o camião 100% elétrico para a longa distância, com autonomias de até 500km. Temos assim boas perspetivas para este ano nas diferentes valências onde a Scania pretende continuar a ser uma referência no setor de pesados” finalizou Sebastian Figueroa.