O que até então era um simples rumor, tornou-se oficial. O Grupo Iveco anunciou ontem (30 de julho), que aceitou a oferta de compra apresentada pela indiana TATA Motors, chegando assim a um acordo de venda e, desta forma, tentar a sua sobrevivência.
Em nota oficial, o Grupo Iveco informou que a oferta pública voluntária recomendada prevista será realizada pela TML CV Holdings PTE LTD ou uma nova sociedade de responsabilidade limitada a constituir, ao abrigo da lei holandesa que será integralmente detida, direta ou indiretamente, pela Tata Motors.
Desfecho esperado
Desde novembro de 2023 que a Revista Automotive previa este desfecho, quando noticiámos o empréstimo de 500 milhões de euros que a Iveco contraiu, através do Banco Europeu de Investimento. À época, criticámos a justificação de que este empréstimo iria contribuir para a eletrificação, eficiência e segurança do setor de transporte através de investimentos em Investigação, Desenvolvimento e Inovação.
Na prática, nada disto se concretizou, tal como também noticiámos. A Nikola, empresa detida pela Iveco, que começou a fabricar os camiões 100% elétricos de longo curso (visitámos a fábrica) teve uma vida curta e faliu. A outra empresa detida pela Iveco, a histórica Magirus, estava de tal modo endividada que foi praticamente oferecida a uma empresa alemã.
Futuro incerto
A Iveco foi transmitindo ao mercado cada vez mais sinais de instabilidade e de falta de desenvolvimento de produtos.
Ao longo de 8 anos, lançaram três gerações de furgões elétricos (Iveco Daily). Visitámos a assemblagem de motores elétricos do modelo Daily, feita pela fábrica da FTP (Fiat Power Train) em Turim, que anunciou um futuro promissor dos motores elétricos italianos. No entanto, comercialmente o furgão 100% elétrico Daily mostrou-se sempre um flop.
Depois deste falhanço comercial, a Iveco anunciou que uma gama completa de furgões elétricos seriam lançados, sendo estes fabricados integralmente pela Hyundai. Passados alguns meses, a Iveco informou que dois dos seus furgões elétricos seriam fabricados pelo grupo Stellantis, o furgão pequeno denominado eJolly e o furgão médio chamado eSuperJolly.
Não é só nos modelos elétricos que a Iveco revelou fraqueza industrial. No início deste ano, a Iveco informou que as cabines dos seus camiões de longo curso iriam ser produzidas em conjunto com a Ford Trucks. Relembramos que a Ford Trucks já tem na Europa um movimento que está a unir as empresas descontentes com os defeitos estruturais dos seus camiões, em particular das cabines.
Como se essa sucessão de decisões da Iveco não bastasse, um dos modelos de maior sucesso da marca, o Eurocargo, viu o investimento no seu desenvolvimento ser diminuído drasticamente. O resultado foi o recente lançamento de uma nova geração Eurocargo que não tem tido expressão nas frotas, tal o fraco nível de evolução que apresentou.
Aposta no escuro
Conscientes ou não do seu destino, no passado mês de junho, o grupo Iveco realizou em Itália uma colossal comemoração dos seus 50 anos de existência, preferindo investir em grandes festividades como forma de tentar aquietar os investidores (e credores) que se mostravam cada vez mais desconfiados do futuro da empresa.
Em Portugal, a Iveco tem vindo a seguir este mesmo caminho, onde recentemente comemorou o cinquentenário da marca com uma pomposa festa no Casino Estoril. O evento reuniu mais de uma centena de convidados portugueses, numa festa dirigida pelo diretor geral da Iveco Espanha e Portugal, Ruggero Mughini.
Resta agora esperar pelos desenvolvimentos dos indianos que adquiriram o grupo Iveco, e que deverão nos próximos tempos determinar o futuro das várias unidades da Iveco pelo mundo.
Natarajan Chandrasekaran, presidente do conselho da Tata Motors declarou em comunicado que “após a cisão do negócio de veículos comerciais da Tata Motors, permitirá ao grupo combinado competir numa base verdadeiramente global com dois mercados domésticos estratégicos na Índia e na Europa. Estamos ansiosos para garantir as aprovações necessárias e concluir a transação nos próximos meses.”