O fundo de pensões holandês ABP, o maior da Holanda, anunciou recentemente a venda da totalidade da sua participação na Caterpillar, por razões éticas. O ABP, que administra cerca de 524 mil milhões de euros em ativos, detinha anteriormente aproximadamente 387 milhões de euros em ações da empresa norte-americana.
Esta decisão do ABP seguiu-se ao desinvestimento do fundo soberano norueguês, Norges Bank Investment Management (NBIM) que vendeu cerca de 2 mil milhões de euros em ações da Caterpillar.

Preocupações políticas
A administração do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, manifestou-se “muito preocupada” com a decisão do fundo soberano norueguês de desinvestir da empresa norte-americana Caterpillar, alegando motivos éticos. Washington confirmou que já iniciou contatos com o governo da Noruega para discutir o caso, que provocou reações nos mercados e contribuiu para uma nova queda nas ações da fabricante.
O fundo soberano da Noruega, considerado o maior do mundo, era o oitavo maior acionista da Caterpillar segundo a Bloomberg. O fundo justificou em comunicado a decisão, com o uso dos equipamentos da Caterpillar pelas autoridades israelitas em Gaza e na Cisjordânia ocupada. A decisão segue as recomendações do Conselho de Ética do fundo, que avalia o cumprimento das diretrizes éticas aprovadas pelo parlamento norueguês.
O ministro das Finanças, Jens Stoltenberg, esclareceu que o governo não interfere nas decisões de investimento do fundo, sublinhando a independência entre as várias instituições envolvidas. “O governo não participa na avaliação de empresas individuais”, afirmou Stoltenberg num comunicado enviado à Reuters. “A decisão de excluir empresas é tomada de forma independente pelo Conselho Executivo do Norges Bank, de acordo com o quadro ético estabelecido. Não é uma decisão política.”

Tarifas acrescentam impacto negativo
Em finais de agosto deste ano, as ações da Caterpillar caíram em bolsa, após a empresa ter revisto em alta as suas previsões de custos com as tarifas alfandegárias para 2025.
Este abalo coincidiu com uma fase de maior incerteza em torno da política comercial norte-americana, marcada pelas tarifas impostas pela administração Trump e pelas taxas de juro elevadas. Segundo analistas da Morgan Stanley, o setor da maquinaria industrial tem sido particularmente penalizado. “A nossa preocupação continua a ser a fraca capacidade da Caterpillar e do setor para repercutir as tarifas nos preços”, observou o analista Angel Castillo.
A empresa prevê agora um impacto anual negativo entre 1,5 e 1,8 mil milhões de dólares, acima da estimativa anterior, o que reforçou as preocupações dos investidores.

Expansão para compensar queda
Apesar das pressões e das perdas em bolsa, a Caterpillar prossegue a sua estratégia de expansão internacional. A empresa australiana RPMGlobal anunciou um acordo para ser adquirida pela Caterpillar por cerca de 728 milhões de dólares norte-americanos.
A aquisição terá ainda de ser analisada pelo Conselho de Revisão de Investimentos Estrangeiros e pelo regulador da concorrência da Austrália, e também necessitará da aprovação dos acionistas da RPMGlobal.