Realizado em Madrid nos dias 4 e 5 de junho de 2025, o 37º Congresso ANCERA registou um aumento de aproximadamente 16% de participantes e inscrições em relação à edição anterior (e mais 45% face a 2022), ultrapassando os 350 participantes. A iniciativa contou com uma expressiva presença de destacados empresários do setor de pós-venda, bem como de diversos representantes de marcas de peças e entidades, reafirmando-se como um encontro de grande relevância na península ibérica. A Revista Automotive esteve presente.
Sob o lema “Aftermarket 360: Visão Global, Ação Local”, o congresso abordou os desafios atuais e futuros do setor, onde alguns especialistas e dirigentes apresentaram dados importantes quanto ao panorama económico das empresas ligadas à atividade do pós-venda automóvel, envolvendo a nova dinâmica do setor, sobretudo em termos de empregabilidade, sustentabilidade, competitividade e regulamentação.
De ressaltar que o setor de pós-venda em Portugal continua a atrair o interesse de diversos investidores espanhóis através de aquisições ou de parcerias com históricas empresas nacionais, estando em curso uma cultura empresarial mais atual, com a implementação de novas (e boas) práticas de gestão de todo o negócio de distribuição e venda de peças.
Através desta nova realidade, os investidores espanhóis estão a trazer para o nosso país novas linhas de produtos; melhores condições comerciais; maior poder de compra junto a fornecedores internacionais; ações formativas para atrair novos talentos e, sobretudo, uma melhor representatividade associativa em articulação com entidades de expressão ibérica, como é o caso da própria ANCERA.

Carro sustentável
Álvaro de la Cruz, diretor de comunicação da FIGIEFA, fez uma apresentação sobre a implementação da regulamentação europeia em Espanha, destacando o trabalho de diálogo regulamentar realizado por esta associação com os seus pares europeus.
Com base em análises do mercado europeu, Álvaro de la Cruz destacou que “ao contrário do que possa parecer, um carro sustentável – segundo estudos da Universidade de Bolonha – é um carro com 6 anos de vida, movido a combustão e que continua a mudar as peças. Ou seja, não são os carros elétricos.
Dou como exemplo o carro elétrico da Tesla, que tem a parte de trás toda ela “montada” numa única peça sendo que, quando este mesmo carro sofre um pequeno toque, as seguradoras dão perda total, pois não é possível substituir a peça. Isso não é sustentável. Sustentável, conforme o exemplo, é podermos voltar a utilizar a mesma viatura, e que seja possível substituir uma determinada peça ou um qualquer componente da carroçaria, dando-lhe novamente uso” referiu.
Potencial do setor

Mathieu Bernard, da Roland Berger, analisou a evolução e a maturidade do mercado de pós-venda, alertando que mais de 500 milhões de euros são perdidos anualmente devido à falta de colaboração e eficiência, especialmente na logística de distribuição de peças. Destacou a fragmentação do mercado espanhol, com uma frota de veículos muito antiga, pouca eletrificação e dominado por pequenas oficinas e distribuidores locais.
Ao analisar o panorama do pós-venda automóvel europeu, a Roland Berger revelou que este setor gera o dobro de postos de trabalho em comparação com os fabricantes automóveis; permite uma maior capilaridade e distribuição de mão-de-obra em toda a Europa, promovendo a empregabilidade em locais remotos e não apenas nas grandes cidades.
Os profissionais do pós-venda atuam em todo o ciclo de vida de um automóvel e têm o desafio técnico de intervirem em quase todas as marcas e modelos em circulação, contribuindo para a verdadeira mobilidade sustentável.
Mas ainda há obstáculos que foram criados pelas marcas automóveis, entre os quais, a dificuldade de acesso às informações técnicas dos modelos, bem como desigualdades na partilha de dados telemáticos, que condicionam o trabalho das empresas de reparação independente, com custos acrescidos para os clientes.
Mercado em transformação

Por sua vez, Fernando López diretor da GiPA, deu a conhecer as tendências que moldam o dia-a-dia das oficinas e lojas de peças, enfatizando conceitos-chave como a saturação do mercado, a escassez de mão-de-obra e a questão da mudança geracional, para além da questão das peças remanufaturadas.
Segundo ele “é preciso subir o nível de conhecimento e a notoriedade das peças remanufaturadas. Um estudo realizado este ano, demonstra que a aceitação por parte dos condutores é muito positiva para utilização destes produtos, mas os mesmos condutores não sabem onde encontrar nem como fazer para obter peças remanufaturadas. Há claramente uma falta de comunicação por parte das marcas e de conhecimento dos condutores/clientes”.
Ainda na sua abordagem, Fernando López destacou o estudo da GIPA onde demonstra que “o setor de pós-venda está bastante ativo (73% dos casos) e, em alguns exemplos, saturados de clientes (13% dos casos), seja no concessionário/serviço oficial; oficina mecânica independente; oficina de pneus; oficina chapa e pintura, autocentro/serviço rápido, loja/distribuidor de peças.
Outros dados interessantes apresentados pelo diretor da GiPA apontam que o parque automóvel circulante aumentou em 33%, mas as entradas nas oficinas desceram 9%, embora se constante que a quilometragem/utilização dos carros está a aumentar. A população espanhola também cresceu, mas a população condutora diminuiu, com mais jovens sem carta de condução, registando um grande crescimento de condutores de 70 a 80 anos.
A antiguidade das empresas no setor de pós-venda é bastante alta, sendo que o Covid teve um impacto até positivo na renovação empresarial, face a outras empresas de diferentes setores de atividades. Em conclusão, destacou que as maiores preocupações do setor são de encontrar mecânicos qualificados; a competição das oficinas à volta; e a tecnologia dos carros. Contudo, salientou, “quando comecei na GiPA, em 1993, estas eram as mesmas (e as principais) preocupações dos empresários do setor” conclui.
Houve ainda lugar para um debate setorial, que reuniu convidados de várias empresas, tais como David Bassas (Niterra e SERNAUTO); Manuel Alcalde (HolyAuto e ANCERA), José Ramón Arnó Bellido (Grupo Driver e OPEN), e Luis González (Bosch Car Service).
O congresso foi encerrado pela equipa de gestão da ANCERA, composta por Nines García de la Fuente (presidente), Juan Carlos Martín (vice-presidente) e Carlos Martín (secretário-geral). Na foto da Automotive, Nines García de la Fuente e Juan Carlos Martín, respetivamente presidente e vice-presidente da ANCERA.
