A Stellantis anunciou a sua desistência dos projetos de hidrogénio, o que parece ter iniciado um caminho irreversível para a Symbio, uma joint-venture que tem em conjunto com a Michelin e a Forvia. A Symbio dedica-se à produção e desenvolvimento de soluções de células de combustível a hidrogénio para furgões, camiões, autocarros, empilhadores, e maquinaria de construção.
Em 2023 a Symbio inaugurou em Saint-Fons (França), a maior gigafábrica de células de combustível da Europa, com uma capacidade de produção estimada em 200.000 packs de células de combustível/ano. No total, esta joint-venture já recebeu cerca de 600 milhões de euros de subsídios, entre ajudas europeias, francesas e até do estado norte-americano da Califórnia.

O anúncio da Stellantis, em cessar as suas atividades relacionadas com o hidrogénio a partir de 2026, fez soar os alarmes na Michelin e na Forvia. Esta decisão surpreendeu o mercado, tendo em conta que a Stellantis é coproprietária (em partes iguais), e principal cliente, da Symbio: desde há muito tempo ambicionava concretizar a mobilidade através do hidrogénio no segmento dos furgões (veículos comerciais ligeiros). As encomendas da Stellantis representam, por si só, cerca de 80% do volume de produção previsto da Symbio.

Os responsáveis da Michelin fizeram chegar à redação da Revista Automotive a sua indignação, declarando que “nos últimos dos anos, a Symbio dimensionou os seus investimentos, as suas contratações, e o seu plano de desenvolvimento, em função das necessidades expressadas pela Stellantis para os próximos oito anos.
A tecnologia e o desempenho dos sistemas da Symbio foram validados por todos os acionistas, incluindo as próprias equipas da Stellantis. Mais recentemente, no âmbito do convite para a apresentação de projetos efetuados pelo Governo de França, anunciado em abril de 2025, a Symbio estava totalmente preparada para produzir células de combustível de hidrogénio para os veículos da Stellantis elegíveis ao abrigo deste programa.
A decisão da Stellantis terá consequências operacionais e financeiras irreversíveis para a Symbio. A Michelin e a Forvia estão especialmente preocupadas com o impacto que tal terá nos 590 empregados da Symbio em Francia,e nos seus 50 empregados no estrangeiro”, comentou a Michelin.

Com Antonio Filosa recentemente ao comando da Stellantis, o grupo está a rever o seu futuro nos automóveis, parecendo dar prioridade à rentabilidade na Europa e nos Estados Unidos, desviando o foco do hidrogénio para os veículos elétricos a bateria, face aos aparentes desafios de infraestrutura associados à mobilidade a hidrogénio.
Nos próximos dias a Stellantis deverá esclarecer o que pretende fazer com a sua participação de um terço na Symbio, não se sabendo ao certo como a Michelin e a Forvia tencionam reestruturar o financiamento e a estratégia da empresa sem o seu maior cliente e investidor.