A Vipal é uma empresa brasileira, sediada no sul do país, presente no mercado mundial há 50 anos. Os seus produtos são comercializados em diversos países e, Portugal, também está incluído nos planos da empresa, numa lógica de expansão dos seus negócios.
Numa entrevista concedida à Automotive, na sede europeia localizada em Valência (Espanha), Frederico Schmidt, General Manager da Vipal Europe, destacou a estratégia para um futuro próximo.
“Sendo uma marca global, a Vipal também costuma estar presentes nos grandes eventos do setor dos pneus, como foi o caso do salão de Essen, que já não existe, tendo sido substituído pelo The Tire Cologne, onde tivemos o privilégio de participar logo na primeira edição.
A Automechanika de Frankfurt tentou acolher os expositores que saíram do salão de Essen, com um pavilhão próprio, mas esta iniciativa não surtiu o efeito desejado junto ao mercado e, como resultado, o salão de pneus de Colonia tornou-se a referência mundial do nosso setor, sendo, portanto, o evento onde manteremos o nosso foco em futuras edições.
Também temos uma ligação ao salão Autopromotec, realizado em Bolonha (Itália), mas na última edição, não marcámos presença visto uma sobreposição de datas, numa mesma semana, entre estes dois salões internacionais, o que inviabilizou a nossa participação em ambas”, sublinhou Frederico Schmidt.
Além disso, “a pandemia aumentou a incerteza se as pessoas iriam comparecer ou não. Assim, no meu modesto entender, “participar em salões deixou de ser uma boa estratégia para atrair novos clientes, visto que pela nossa abrangência comercial, praticamente já conhecemos todos eles. Com a exceção de alguns casos, praticamente não há nenhuma empresa de relevo na Europa, que não conheçamos na área de recauchutagem de pneus.
Em relação à Vipal Europa, devo dizer que recentemente houve uma nova divisão dos territórios de atuação da Vipal em todo o mundo. Agora, a nossa atuação na Europa, anteriormente conhecida como EMEA (Europa, Oriente Médio e Norte da África), passou a incluir todo o continente africano.
Tal dimensão territorial trouxe-nos um novo desafio para 2023, tendo em conta que agora podemos comercializar os nossos produtos e serviços para todos os países em África. Anteriormente, atendíamos os países africanos a partir do Brasil, mas devido à distância, à pandemia e às restrições de viagens, tornou-se mais fácil atender toda à região a partir da Europa. Para fortalecer a nossa equipa, contratámos mais um profissional com longa experiência no mercado dos pneus (Thomas Giermann), que atuará como representante comercial na região DACH (que abrange Alemanha, Áustria e Suíça), estratégica para os negócios da Vipal no continente europeu.
Atualmente, a nossa equipa é composta por técnicos e comerciais locais, pode atender a esses mercados a partir da nossa sede, em Valência. É uma grande responsabilidade, pois são três mercados vastos e distintos. No entanto, temos membros em nossa equipa que já atuaram na África e possuem conhecimento prévio do mercado, o que facilita a nossa transição. Como exemplo, estive recentemente na África do Sul para visitar um cliente que já trabalha connosco há vários anos, estreitando ainda mais nossa relação com a Vipal Europa”, destacou.
Na Europa há 17 anos
A presença da Vipal Europa na Europa remonta há quase 17 anos. Frederico Schmidt recorda que “a minha trajetória na empresa começou no Brasil, como acontece com a maioria dos executivos brasileiros, seguindo-se uma transferência para nossa filial nos Estados Unidos, onde permaneci por quase 16 anos na nossa filial, em Miami, na Flórida.
Começámos a atender principalmente o sul dos Estados Unidos e a América Central a partir de Miami, expandindo posteriormente para todos os territórios dos Estados Unidos e estabelecendo um escritório no México. Atualmente, nas Américas, além do Brasil, temos filiais na Argentina, Chile, Colômbia, México e, naturalmente, nos Estados Unidos”.
Na Europa, a história da Vipal começou aqui em Valência (Espanha), onde contamos com o nosso escritório central. Temos funcionários fixos na Espanha, inseridos na área administrativa e contabilística, geridas a partir desta nossa unidade, o que torna os processos internos mais céleres”, salientou.
Frederico Schmidt recorda que em 2021 marcou o início dos aumentos de preços. “Passámos por um período de quase dois anos sem reajustes significativos e, de repente, somos confrontados com cinco aumentos no ano de 2021. Sabemos que estes aumentos, não refletem apenas ao flagelo da inflação, mas também de questões logísticas que afetam toda a indústria, como a importação e até mesmo a produção de matéria-prima, ou seja, a borracha, a cola, o aço, entre outros componentes dos pneus.
Contudo, e no momento em que concedo esta entrevista, estamos a observar uma tendência de queda nos preços internacionais do nosso setor, em todas as linhas de produtos. O custo transporte marítimo diminuiu bastante, o que influencia, pela positiva, o preço da borracha natural, uma das principais matérias-primas essenciais do pneu e dos nossos pisos”, revelou.
Combater dumping
O responsável da Vipal Europa salienta que “temos uma participação muito ativa no combate ao dumping e às práticas de subsídio. Em 2018, participámos de várias reuniões em Bruxelas sobre esse assunto. Estamos trabalhando em conjunto com as associações para evitar a prorrogação dos subsídios e do dumping”. Segundo ele “num passado recente, e sem o apoio das associações, a indústria de pneus na Europa foi afetada negativamente. A quantidade de pneus chineses importados aumentou, atingindo cerca de 7,5 milhões de pneus por ano, com uma diferença de 4,5 milhões de pneus em relação à produção europeia.
Como resultado a produção europeia sofreu um forte impacto pelo dumping de preço dos pneus chineses que eram vendidos a valores inferiores aos custos de matéria-prima, resultando em danos significativos para toda a indústria. Isso afetou tanto o mercado dos pneus novos quanto os pneus reciclados.
Tenho acompanhado de perto o trabalho da Vipal nesse sentido e considero que a empresa é uma das mais ativas e dinâmicas no combate ao dumping. A direção da Vipal têm se esforçado para melhorar a imagem do setor através de abertura de novas unidades de negócio em diversos países, como na Argentina, por exemplo, com avultados investimentos, cuidado com a imagem; na contratação de mão de obra e com equipa comercial dedicada.
Apesar de ser uma empresa com 50 anos de história, a cultura de gestão da Vipal assenta num compromisso à procura da qualidade com transparência, ao mesmo tempo que procura adaptar-se às constantes transformações do mercado. Os camiões, por exemplo, estão a passar por transformações significativas de consumos, performances, segurança e conforto, com motores, caixas de velocidades e eixos cada vez mais otimizados, necessitando assim de pneus adequados a esta evolução.
Neste sentido, a Vipal continua a desenvolver novos pisos e aplicações para os pneus, em geral. Dispomos de um laboratório de pesquisa e desenvolvimento que realiza, regularmente, uma série de análises e testes para aprimorar os compostos e desenhos dos nossos pisos.
Em termos de pneus recauchutados na Europa o número real não chega a 30 mil, para um mercado que consome cerca de 5 milhões por ano, ou seja, o número de pneus reciclados ainda é consideravelmente baixo. Ainda há um estigma sobre a qualidade e a segurança dos pneus recauchutados, sobretudo para utilização nos camiões, um mito que temos vindo a desmitificar, quase que de forma didática, procurando salientar, com argumentos técnicos, da importância para o ambiente e para a economia das frotas, na utilização de pneus recauchutados.
Quanto à questão da produção dos pneus, é importante dizer que, atualmente, poucos produtos são fabricados localmente devido ao fator chamado globalização. Antes de chegar ao produto final, sabemos que os seus componentes vêm de várias partes do mundo. Cada componente pode vir de regiões tão diferente, tais como Malásia, Oriente Médio, Rússia, Estados Unidos, Índia, Américas ou China. Portanto, a produção local já não é uma barreira significativa para a indústria dos pneus e da borracha”.
Da parte que nos toca, a Vipal possui uma vasta gama de pisos de pneus, com qualidade reconhecida internacionalmente. A nossa capacidade produtiva e os investimentos que realizámos em testes e desenvolvimentos, é um dos fatores chaves da nossa empresa, tornando os nossos produtos muito mais competitivos nos diversos países onde estamos presentes.
A disponibilidade de stock é outro aspecto importante. Enquanto os fornecedores locais podem levar até duas semanas para atender a um pedido, a Vipal, graças ao stock prévio, pode entregar em apenas dois dias. Isso cria uma relação de confiança com os clientes, pois eles sabem que a Vipal sempre terá disponibilidade de produtos. Essa agilidade também ajuda a superar a concorrência.
Quanto às perspectivas futuras, embora estejamos a viver num período de incerteza, a expectativa é que os números se mantenham estáveis ou até mesmo superem aqueles que alcançámos nas nossas atividades de 2022.
Há sinais de que a economia global tem vindo a recuperar-se, gradualmente, o que é um bom indicador. Contudo, a expansão contínua da Vipal, a nossa cultura de proximidade com os nossos clientes, conjugada com uma ampla gama de pisos de pneus, bem como a possibilidade de explorar novos mercados, contribuem para termos uma expectativa positiva em 2023, na Europa e nos demais continentes”, revelou Frederico Schmidt.