A Automotive participou do evento REMAN da Valeo realizado na sua fábrica de Czechowice-Dziedzice na Polónia (a cerca de 100km de Cracóvia), e assim conhecer de perto a sua dinâmica no setor das peças remanufaturadas.
A começar pelos números, a Valeo produz 1 milhão de peças remanufaturadas por ano, e o grupo ambiciona crescer esse valor para os 2 milhões até 2030. A remanufatura de peças começou na Valeo há 40 anos, quando a economia circular ainda não estava na moda. Hoje, processo de remanufactura tem os mesmos standards dos produtos novos fornecidos para o primeiro equipamento (OEM), e inclusive têm 2 anos de garantia.
Segundo a Valeo, o transporte rodoviário é responsável por 20% das emissões de carbono no mundo e a descarbonização, sem economia circular, não é sustentável. As peças remanufaturadas produzem menos 50 a 80% de CO2 na sua produção, quando comparadas com peças novas.
Diferença entre reparação e remanufatura
Enquanto na reparação, substitui-se o componente que está danificado, a remanufatura significa que todos os componentes da peça são desmontados, reconstruídos e testados. Em seguida são montados na peça e todo o conjunto é novamente testado. Na prática, é como fabricar uma peça nova, mas com menos emissões e custos.
A fábrica de Czechowice está no centro do crescente negócio de remanufatura da Valeo. Nos seus 80 mil m2 de área produtiva, e com mais de 500 funcionários, são remanufaturadas peças de ligeiros de passageiros e comerciais ligeiros, tendo algumas linhas de produtos também para camiões. A fábrica também faz peças remanufaturadas para máquinas de construção civil e tratores agrícolas, mas ainda numa escala reduzida. Assim, deverá ser uma das áreas onde a marca irá crescer nos próximos anos.
Remanufatura multimarca
A Valeo também efetua a remanufactura de peças de outras marcas. No entanto, só o fazem para marcas de primeiro equipamento (OEM) e de marcas de qualidade equivalente comprovada, ou seja, as marcas de baixa qualidade não entram no processo.
Para fazerem peças remanufaturadas de outras marcas, foi necessário agregar um conhecimento muito grande do que produz no mercado de peças em todo o mundo, tendo para isso acumulado informações de 14 anos de laboração da fábrica. Em Czechowice os profissionais têm acesso a como determinada peça foi fabricada (independente da marca), para restituí-la ao seu estado original, ou até melhor. Quando desmontam a peça, identificam logo qual o componente que cedeu e conseguem reconstruí lo de forma mais robusta.
Além disso, o expertise da Valeo permite identificar os problemas que determinadas peças tiveram ao longo da sua comercialização e utilização e, por isso, quando a remanufaturam, corrigem esses erros. Assim, e em muitos casos, as peças remanufaturadas são até melhores do que as originais.
Abrangência da remanufatura
Os “cores” (vulgo carcaças) das peças são o elemento fundamental para a remanufactura e por isso a recolha deve ser criteriosa. No entanto, mesmo quando recebem um “core” sem qualquer identificação da sua origem, o sistema aprimorado da Valeo consegue reconhecer qual é a marca e modelo daquela peça, visto que o seu acervo de conhecimento tem milhões de peças já identificadas.
Não há um limite de idade para uma peça ser remanufaturada. O mais importante é a qualidade do “core” e daí a importância do trabalho dos distribuidores para efetuarem, logo à partida, uma boa seleção de “cores” dos seus clientes oficinais. Por outro lado, a remanufatura também pode ser feita de componentes recentes, como é o caso de radares LiDar, entre outros.
Papel dos distribuidores, oficinas e frotas
Os distribuidores têm um papel importante na economia circular, porque são eles que recolhem os “cores” (carcaças). As oficinas também têm uma grande importância, porque são promotoras da utilização de peças remanufaturadas para os seus clientes. Grupos de compra como Temot, Nexus, entre outros, já têm 10% das suas compras em peças remanufaturadas, mas a Valeo quer crescer esse número para os 20%.
A Valeo atribuiu um preço único para cada tipo de “core”, independentemente da marca. Isso facilita o envio por parte do distribuidor, porque assim pode, por exemplo, agregar todos os alternadores num único envio, onde o valor pago por “core” de alternador é de 25 euros. Depois o crédito às oficinas, é feito pelos próprios distribuidores.
No entanto, o papel mais importante cabe às frotas. Quanto mais estas usarem peças remanufaturadas, mais poderão melhorar os seus rácios de sustentabilidade real. Inclusive nas embalagens, visto que a Valeo só utiliza materiais sustentáveis. Por exemplo, todos os anos poupam 400 toneladas de plástico ao utilizarem apenas papel nas suas embalagens. Além de que, em média, as peças remanufaturadas são 25% mais baratas do que as peças novas.
Facilidade de acesso a peças remanufaturadas
Para tornar o processo de compra das peças remanufaturadas mais simples, a Valeo está a proceder à identificação destas peças no TecDoc. Desta forma, tanto o mecânico como o consultor de serviço, poderão aconselhar com segurança os clientes para que utilizem peças remanufaturadas.
Acima de tudo, a Valeo sabe que a digitalização tem também uma pegada ambiental. Quanto mais sistemas informáticos se tem, maior necessidade de investimento em data centres que, como é sabido, têm emissões de carbono elevadas. Por isso, conseguiram incluir as peças remanufaturadas num sistema já existente e comprovadamente de sucesso: o Valeo Specialist Club. Com o Valeo Specialist Club, as oficinas podem gerir as suas compras e ter acesso às peças remanufaturadas sem terem de instalar mais aplicações (apps).
Ecologia nos recursos humanos
A retenção de talentos é também um vetor de sustentabilidade para a Valeo. A média de antiguidade dos trabalhadores da fábrica de Czechowice é de 10 anos, o que se reflete num grande nível de experiência, e consequentemente de menor desperdício nos processos produtivos.
À margem da visita, e longe dos olhares das direções da Valeo, conversamos com alguns trabalhadores da fábrica. É geral o sentimento que gostam de trabalhar na produção de peças remanufaturadas, porque o trabalho é diferente todos os dias. Ao contrário de uma fábrica (de produtos novos), que produz sempre a mesma coisa. Em Czechowice, a variedade de “cores” é grande: são cerca de 7 mil por dia, de distintas marcas, modelos e aplicações.
Por um lado, sentem que estão a aprender todos os dias, e por outro, têm o conforto de estarem inseridos numa fábrica, onde os processos são standard, e onde todas as condições são fornecidas para minimizar o erro e o esforço dos trabalhadores.
Os 4Rs da sustentabilidade
Para a Valeo, existem 4 R’s na sustentabilidade: Robustez, Reparar, Remanufaturar e Reciclar. Tudo começa na Robustez do produto fabricado, que deve maximizar a vida útil do produto; Reparar, onde o produto dever ser de fácil reparação; Remanufaturar, para dar um novo ciclo de vida ao produto como novo; Reciclar, apenas como último recurso, transformando os produtos em fim de vida em matérias-primas para novos produtos.
No que toca às peças remanufaturadas, o objetivo de alcançar os 2 milhões passará por alargarem o seu espectro às peças e componentes dos carros elétricos: motores, módulos elétricos, inversores, cabos de alta tensão, caixas de velocidades, entre outros. A remanufatura, passará assim a ser a garantia contra a obsolescência programada dos automóveis elétricos, pelo menos naquilo que depender da Valeo REMAN.