Fábio Alves é o responsável pelo CFOMP – Centro de Formação de Operadores de Máquinas Pesadas, que já conta com mais de 8.000 formandos ao longo de 12 anos de atividade. Em entrevista à Revista Automotive, este profissional das máquinas de obras, conta-nos as características das formações e como o CFOMP se diferencia no mercado.
“A modalidade da formação que ministramos é de manobrador de máquinas em obras, para trabalhar com equipamentos tais como retroescavadora, miniescavadora, pá-carregadora, gruas, empilhadoras entre outras máquinas.
Em julho de 2021 iniciamos as nossas atividades em Portugal, sendo que as origens do CFOMP estão no Rio de Janeiro, Brasil, tendo sido fundada a 13 de setembro de 2011. São 12 anos de formação específica nesta área, sendo que não trabalhamos com outros segmentos.
Estamos totalmente dedicados à formação de manobrador de máquinas em obras. Desde o início do CFOMP, já contabilizámos mais de 8.000 formandos nos vários países onde operamos. Por exemplo, no ano passado em Cabo Verde, tivemos cerca de 550 formandos. Em Portugal já contamos com mais de 200 formandos até à data.

Tipologia de formação
A nossa formação tem uma componente teórica, com uma vertente online e presencial (sala de aula) e, depois, a componente prática, onde faz-se um dia inteiro (mínimo) de formação com as máquinas. Digo o mínimo de um dia, porque aplicamos a formação em diversos equipamentos e onde o aluno pode escolher quais as máquinas que quer vir a operar, podendo ser uma retroescavadora, miniescavadora, entre outras.
De acordo com o calendário, vamos realizando as formações, ou seja, é uma formação contínua que acontece todos os meses, inclusive aos fins de semana, tendo e conta que a maioria dos formandos trabalha durante a semana.
Estamos direcionados para todos aqueles que pretendem ser inseridos no mercado de trabalho como manobrador de máquinas em obras, ou até mesmo aqueles que já são manobradores, mas que por razões diversas, ainda não têm a documentação. É importante salientar que a formação nesta área é obrigatória para se estar legalmente habilitado para operar as máquinas.

Certificação das qualificações
O CFOMP está registado no DGERT, o que permite ao formando ter a isenção do IVA na inscrição dos nossos cursos. Somos também associados da APFOR – Associação Portuguesa das Entidades Formadoras. A nossa formação confere um certificado com todas as disciplinas ministradas e as respetivas horas de formação. Também emitimos a certificação de formação prática, para que o formando possa levá-la a uma empresa e esta ser reconhecida no âmbito da formação prática.
As formações do CFOMP também ficam inscritas no portal do Passaporte Qualifica, que reúne todos os registos das formações que o aluno tem durante a sua vida. Isso é como se fosse um currículo a nível digital, que qualquer empresa pode ter acesso para poder verificar as qualificações do formando. Esta é mais uma forma de dar creditação à formação concluída, através da nossa entidade.
Somos muito frontais e transparentes em todas as aulas e dizemos sempre que não é na formação que as pessoas se tornam profissionais. Mas é graças as formações que vão sair com todas as bases de como trabalhar com os equipamentos de obras, de forma mais segurança, e isso para nós é fundamental.

Formação prática
As nossas formações podem ocorrer em grupo ou de maneira individual. Dinamizamos formações em grupo com 6 participantes por equipamento, ou individual, onde temos o formador e o equipamento completamente disponível para o aluno, conforme o pacote contratado. Essa formação individual pode ser feita um dia, dois dias ou por mais tempo, e o aluno poderá escolher uma ou mais máquinas para operar. A formação individual faz com que o aluno tenha uma qualificação diferenciada de uma formação em grupo, porque a atenção do formador é orientada para o formando.
No âmbito da formação teórica, temos uma grande diversidade de materiais, desde apresentações específicas para cada máquina, até a uma quantidade de vídeos explicativos. No âmbito da parte prática é onde que fazemos a nossa diferença.

Na formação prática do CFOMP, o formando tem a oportunidade de aprender as técnicas iniciais básicas, para que quando chegue a uma empresa, saiba como fazer uma abertura de vala, como fazer um carregamento frontal com uma retroescavadora, entre outros, de forma segura. Assim ele tem o seu início do seu desenvolvimento.
Para se tornar um profissional, não é num dia, numa semana, ou num mês: será na soma do seu dia a dia. A importância da prática é que permite aos formandos terem conhecimento e domínio da parte operacional dos equipamentos. É muito importante familiarizar-se com a máquina, como ela reage e interage com o terreno.

Formandos de todos os locais
Em termos geográficos, as formações são ministradas na região da grande Lisboa, sendo que isso não tem sido impeditivo de termos alunos desde Faro até ao Porto, pelo nosso diferencial de formação prática. Além disso, temos muitos alunos emigrantes, que viagem desde à Alemanha, Bélgica, França, Suíça e Luxemburgo, para fazer a formação prática connosco. É uma alegria muito grande quando os formandos nos dizem que vão comprar passagens aéreas de propósito, para virem às nossas formações.
Ao mesmo tempo que estamos a formar nas máquinas, temos uma formação das outras componentes, sobretudo segurança, para se trabalhar em obras. Os formandos habituam-se a utilizar o colete, o capacete, entre outros EPI’s, para que possam entrar no mercado de trabalho já com uma mentalidade de segurança, qualquer que seja a dimensão da empresa. Ensinamos a compreender as placas de sinalização e regulamentação nas obras, que estipulam tudo acerca da operação em ambiente de obra, entre outros aspetos da vida prática no local de trabalho.

Internacionalização
Além de Portugal, o CFOMP está presente internacionalmente no Brasil, Cabo Verde e Angola. No Brasil estamos desde 2011, com a nossa empresa a operar diretamente nas formações. Em Cabo Verde também temos uma entidade nossa que ministra as formações. Em Angola temos uma parceria com a empresa VH Express.
A adesão internacional tem sido muito boa. Muitos desses nossos alunos querem emigrar para Portugal, mas querem chegar ao nosso país já com uma qualificação profissional. A realidade é que quando um emigrante chega a Portugal, ele vai ter de se submeter ao que estiver à sua frente e, na construção civil, isto significa trabalhar com pá, picareta ou enxada. Contudo, se ele chegar cá com uma qualificação profissional, terá todas as bases para começar a trabalhar com os equipamentos de movimentação de terras, em condições ideais e com mais segurança.

Formação é o melhor investimento
O início do CFOMP tem um lado curioso e que me marcou. Tudo começou no Brasil, quando eu estava parado com uma bicicleta numa zona do interior, a ver uma retroescavadora a trabalhar por volta das 11h30 da manhã. Não sei porque, mas aquilo chamou a minha atenção. Ganhei coragem e fui falar com o manobrador. Na altura, propus-lhe pagar o seu almoço e, em troca, ele iria ensinar-me a trabalhar com aquela máquina. Tudo o que tinha eram 20 reais (cerca de 4 euros).
Para minha felicidade, o manobrador aceitou a minha proposta e hoje posso dizer que foram os 4 euros mais bem investidos da minha vida, porque fiquei 3 horas a movimentar aquela máquina a aprender cada movimento. Detalhe importante: esses 20 reais era todo o dinheiro que eu tinha na carteira. Literalmente, eu dei tudo o que tinha para poder aprender. Não foi por acaso, tudo nesta vida tem um propósito e hoje, em 2023, estamos a completar os 12 anos de formações, com base numa história única, mas cheia de simbolismos.

Capacitar com honestidade
Temos formandos que já vêm para a nossa formação com uma entrevista de emprego marcada. Na formação nós prezamos pela honestidade e transparência. O formando tem de ser humilde e sincero na hora de dizer à empresa o que ele é. Não adianta uma pessoa chegar numa empresa, argumentar que fez a formação connosco e que já sabe fazer de um tudo. Orientamos os nossos formandos para manter uma atitude de humildade e de verdade, dizendo que fez a formação no CFOMP, que sabe como operar as máquinas, mas que ainda não tem a proficiência de um profissional.
É uma grande gratificação, quando vemos muitos dos nossos formandos a serem empregados no mercado de trabalho, e que nos enviam vídeos com os seus testemunhos. Vê-los antes sentados como alunos e depois a trabalhar nas máquinas com um emprego, é a nossa maior alegria.
O CFOMP tem sido um exportador de manobrador de máquinas. Temos muitos formandos que também estão a ir para outros países. Estamos a assistir a cada vez mais fenómenos climáticos (e agora sísmicos), que têm destruído muitas cidades. Além disso, quando a guerra na Europa acabar, vai ser necessário mão de obra qualificada para poder reconstruir aquele país. Hoje, contamos com ex-alunos com a nossa certificação a trabalhar em outros países na União Europeia, como a Alemanha, Bélgica, França, Irlanda, Suíça e o Luxemburgo, com grandes melhorias no seu emprego e na qualidade das suas vidas.
Exemplo disso foi um dos nossos alunos que estava a trabalhar em Portugal como tratorista agrícola, e que só recebia cerca de 850 euros por mês. Ele fez a formação individual connosco e depois foi trabalhar para o Luxemburgo. Resultado: agora tem um salário de 2850 euros por mês. Ou seja, está a ganhar 2000 euros a mais do que ganhava em Portugal. Podemos dizer que somos uma ponte que conecta as pessoas, aos seus destinos.
Parcerias com escolas de condução
Estamos a ter vários contactos com escolas de condução em Portugal, para alargar a nossa oferta formativa a essas escolas. As escolas já estão a perceber que este é um mercado em expansão, e através das nossas formações, poderão entrar com segurança neste setor. Vemos essas parcerias com um futuro promissor, que poderá alavancar a formação profissional nesta área.
Brevemente iremos anunciar a nossa primeira parceria em Portugal, sendo que em Cabo Verde já estamos a trabalhar com 8 escolas de condução, com resultados muito bons. Também tenho acompanhado o trabalho da Revista Automotive no setor das máquinas de construção, abrindo um importante espaço para este mercado, incluindo a divulgação de vídeos de qualidade e publicados no canal Youtube, o que é de louvar.
Este ano, além da expansão das nossas habituais formações, também estamos a preparar um evento em Portugal, agendado para o dia 24 de junho, para comemorar com os nossos formandos os 12 anos do CFOMP, com várias atividades em máquinas e confraternização entre todos. Por tudo isto, estamos confiantes de que 2023 será um bom ano para todos.”, conclui com entusiasmo Fábio Alves.
