Nines García de la Fuente, nova diretora geral da Groupauto Unión Ibérica (GAUIb) desde 1 de janeiro deste ano, recebeu a Revista Automotive na sede da entidade em Madrid (Espanha), para uma entrevista exclusiva onde falou sobre o seu setor; abordou os desafios e as transformações pelas quais toda a atividade empresarial irá continuar a atravessar, e ressaltou que para continuar a sua expansão, o setor de pós-venda dependerá de novos investimentos e mais profissionalismo por parte de todos os operadores.
A nova diretora geral da GAUIb tem uma carreira profissional reconhecida no setor de pós-venda tanto a nível nacional quanto internacional e vem acrescentar valor ao Grupo, visto que tem diferentes perspetivas de negócio, devido aos cargos e posições de topo que desempenhou nos diversos pontos da cadeia de valor desde fabricantes (Bosch e Delphi) a distribuidores (Grupo Pedro Sanz).
Também atuou como diretora de operações da GAUIb desde setembro de 2019, ascendendo agora à liderança do Grupo. Tem ainda a seu cargo a presidência da ANCERA, a Associação Espanhola de Distribuidores de Peças, sendo uma voz ativa no Conselho da FIGIEFA, Associação Europeia de Distribuidores de Peças.

Amplitude e dinâmica
Nines García de la Fuente referiu que “constituído em 1989, o Groupauto Unión Ibérica tornou-se ao longo dos últimos anos num dos maiores grupos empresariais dedicados ao setor de pós-venda automóvel. Atualmente, somos uma referência europeia em termos de gestão, distribuição de peças e prestação de serviços oficinais, com uma rede abandeirada acima de 1200 oficinas multimarca.
Estamos presentes em Espanha e em Portugal com 29 sócios (4 deles em Portugal); mais de 100 fornecedores de peças e equipamentos; 285 pontos de venda; 3 redes oficinais e cerca de 1260 oficinas abandeiradas, sobretudo com a insígnia Eurotaller que já conta com 25 anos de existência em Espanha. Contamos com uma equipa de 32 pessoas, dinâmicas, profissionais e motivadas.
Em termos gerais, a nossa visão assenta em trabalhar com proximidade com os fabricantes de peças para encontrarmos e desenvolvermos as melhores soluções e produtos para os nossos associados e clientes; impulsionar a liderança empresarial através de uma competitividade saudável e construtiva e, também, acrescentar valor aos membros do nosso grupo: com informação de qualidade, ferramentas digitais, acesso à formação especializada, ações de marketing, promoções comerciais, assistência e suporte técnico, e uma logística eficiente.
Mercado em expansão
O setor de pós-venda em Espanha alcançou em 2024 um crescimento global acima do crescimento da própria economia espanhola como um todo. É uma demonstração de força da nossa atividade e uma demonstração de que continuamos a ser resilientes e que conseguimos superar os obstáculos inerentes à nossa atividade, sempre com motivação e adequação para ultrapassar os desafios do contexto atual do mercado de pós-venda que, felizmente, está em contínua evolução. A venda de automóveis novos em Espanha cresceu em 2024 (acima de 1 milhão de unidades), com maior incidência nos veículos pesados (camiões e autocarros), mas também cresceram as vendas de veículos usados (mais de 2,1 milhões de viaturas).
Se é verdade que temos um parque automóvel circulante muito ativo em Espanha (estima-se que sejam mais de 35 milhões de viaturas), também é verdade que estamos a assistir a um contínuo envelhecimento deste mesmo parque, cuja idade média hoje situa-se nos 14 anos sendo que, em 2008, tínhamos uma idade média de 8 anos. Isto deve-se essencialmente por um lado, por uma maior presença de veículos novos nas mãos das empresas (frotas em geral) e, por outro lado, uma menor procura das famílias (particulares) pelos veículos novos.
Há uma incerteza quando ao futuro das motorizações dos automóveis novos por parte dos particulares. A falta de clareza (definição) por parte das autoridades europeias e dos governos locais no tocante aos incentivos à compra de veículos elétricos, juntamente com o aumento dos preços dos veículos novos, são fatores que impulsionam a venda de veículos usados, na sua grande maioria movidos com motores a combustão.
Ora, com um parque automóvel envelhecido e na sua grande maioria equipado com motores a combustão, o setor de pós-venda em geral acaba por beneficiar-se diante de uma maior necessidade de manutenção e maior frequência na reparação destes veículos, gerando um maior consumo de peças e equipamentos, bem como de uma maior procura pelos serviços oficinais, resultando daí um crescimento no nosso setor como um todo.

Crescimento das redes
A transformação do setor automóvel está a levar ao fecho de oficinas independentes com menos capacidade financeira, de gestão e de adaptação às mudanças e obrigações legais. Por outro lado, está a levar a um aumento das oficinas abandeiradas em redes multimarca, como é o nosso caso da rede Eurotaller que já conta com mais de 800 oficinas aderentes em Espanha.
Pertencer a uma rede de oficinas multimarca tem diversos benefícios, sobretudo no acesso aos dados técnicos, formações, apoio à gestão, parcerias comerciais e acordos com gestores de frotas, entre tantos outros. São vantagens que favorecem a criação de empresas mais sólidas, rentáveis e tecnicamente mais capacitadas para atender às frotas ou aos particulares, com segurança para os seus trabalhadores, garantia e qualidade dos serviços para os clientes.
As vendas de veículos novos (ligeiros e pesados) através dos produtos de renting ou leasing, estão a crescer muito em Espanha e uma oficina estruturada em rede terá maiores chances de ter acesso a este parque circulante de veículos novos, através dos acordos que o conceito de rede oficinal consegue estabelecer diretamente com as grandes gestoras de frota. É muito complicado (e oneroso) para uma empresa gestora de frota estabelecer acordos individuais com oficinas independentes, preferindo realizar acordos com as redes oficinais, de forma mais abrangente e duradoura.
Centrais de compra – riscos e benefícios
Estamos a viver uma grande concentração de negócios a nível global. Não falo somente do meu setor (pós-venda), mas cito aqui a banca, por exemplo. Este movimento também está a chegar ao setor automóvel, como um todo. Em especial, as empresas de distribuição de peças tenderão a concentrar-se e agrupar-se para melhor poderem competir nos seus mercados.

Assim, vejo muitos prós e poucos fatores contra neste movimento. Afinal, estar sob o “guarda-chuva” de um grupo de compra, desde que ele esteja a realizar um bom trabalho – e creio que os grupos de compra em geral estão a fazer muito bem o seu trabalho – é possível alcançarem-se boas negociações com os fabricantes de peças. Normalmente estas negociações também beneficiam os seus associados e as redes abandeiradas e até os clientes de uma forma geral. Por isso, o facto de pertencer a um grupo traz benefícios para todos.
Temos este exemplo dentro do Grupo Unión Ibérica com os nossos associados em Espanha e em Portugal, e também com as nossas 3 redes de oficinais que aqui se beneficiam dos acordos que estabelecemos com as frotas das empresas de renting e de leasing, proporcionando mais serviços oficinais para os nossos parceiros.
Naturalmente vamos mais além dos acordos, onde orientamos os nossos parceiros oficinais para implementarem as melhores práticas de funcionamento dos seus negócios, com comparações de rácios, análises de KPi’s, entre muitas outras ferramentas de gestão, para otimização dos custos, sobretudo no tocante à logística de peças.
Pertencer a um grupo de compras permite que os parceiros estejam bem informados quando à evolução dos mercados, acompanhem o desenvolvimento de determinados projetos, enfim, uma série de vantagens. Também é necessário acompanhar e implementar as diretrizes do grupo ao qual pertence. Não se pode estar à margem das decisões, metas e objetivos traçados. Isto sim, no meu entender, poderá constituir o único risco para o negócio, numa atitude mais individualista, neste como em qualquer outra atividade empresarial.
Metas para 2025
Assumi a direção geral do Grupo no início deste ano de 2025 e encontro uma empresa sólida e até aqui bem gerida pelo meu antecessor Juan Carlos Pérez Castellanos, principal responsável pela empresa nos últimos 17 anos que fez um grande trabalho. Iremos procurar dar continuidade ao seu legado, em prol dos nossos associados para proporcionar-lhe negócios mais rentáveis possíveis, com melhores condições de compra e de venda, para impulsionar o volume de negócio, de todos os envolvidos.
Estamos sempre atentos e em constante trabalho para alcançarmos estes objetivos e, também, ajudar os nossos sócios na otimização dos custos, como por exemplo, aujudar na implementação de melhores rotas logísticas para os nossos sócios da distribuição, ou ainda, disponibilizar ferramentas informáticas e de suporte técnico dedicados, com soluções mais especificas, através das nossas equipas de profissionais, procurando sempre que possível, estarmos um passo à frente das movimentações do mercado de peças.
Temos vindo a crescer ano após ano, em volume, faturação e serviços, o que demonstra que estamos no caminho certo, graças ao desempenho interno das nossas equipas e externo dos nossos sócios e parceiros de negócio. Dispomos da maior rede de oficinas multimarca no mercado ibérico que, através de auditorias externas, nos qualificam como uma das melhores redes oficinais ibéricas; sendo aquela que dispõe da mais ampla cobertura geográfica para as empresas de renting e frotas.
Logicamente que queremos continuar a crescer e a expandir a nossa atuação no setor de pós-venda aqui em Espanha, mas, e sobretudo, em Portugal que tem um mercado muito dinâmico e cada vez mais profissional, país onde estamos representados pelos nossos sócios Europeças, grupo Nors, Soulima e Global Parts. Sabemos que ainda temos muito potencial de crescimento, incluindo eventualmente capitalizar novos sócios, oportunidades de negócios que estamos a analisar e a trabalhar neste sentido.

Novas dinâmicas
Estamos a assistir a uma maior atividade por parte das marcas automóveis a nível global, na criação de empresas próprias de distribuição de peças de origem e, com mais agressividade, nas peças de reposição para o setor de pós-venda (Stellantis, Distrigo e Motrio, por exemplo, NDR.).
Após anos de alguma acomodação na área do pós-venda das suas concessões, as marcas automóveis (ligeiros e pesados) agora procuram ganhos e expansão dos seus negócios fora das suas concessões, visto que as vendas de veículos novos nas suas concessões já não são tão rentáveis como foram nos últimos anos.
Isto significa mais empresas de peso a disputar o setor de pós-venda multimarca, o que torna a nossa atividade ainda mais competitiva. Não era previsível que isto viesse a ocorrer de forma tão rápida, mas hoje é um facto e assim temos de saber trabalhar com esta nova dinâmica, sendo isto mais um fator de importância para um distribuidor de peças ou uma oficina, pertencer a um grupo de referência, como é o nosso caso.
Com base nos bons resultados alcançados em 2024, na nossa força negocial e liderança em Espanha, bem como nas oportunidades de crescimento que temos em Portugal, projetamos um bom ano de 2025 para o Grupo Unión Ibérica.
Continuaremos muito dinâmicos em ações com os nossos sócios, redes oficinais e proximidade com os fabricantes de peças. Vamos ter um espaço próprio no Salão Motortec deste ano, disponibilizando um ambiente agradável para acolher os nossos sócios, os nossos parceiros oficinais, os fabricantes e, naturalmente, os demais convidados”, ressaltou Nines Garcia de la Fuente à Automotive.
A nomeação de Nines García de la Fuente foi realizada por unanimidade pelo Conselho de Administração da empresa, cujos membros destacaram “a adequação de sua liderança para enfrentar com êxito os desafios do complexo contexto atual do mercado de pós-venda e sua evolução previsível”.
“Esta decisão baseia-se na convicção de que ela é a pessoa ideal para liderar a empresa em uma etapa em que é necessário enfrentar os grandes desafios do nosso setor, aproveitando ao máximo as oportunidades do mercado atual e futuro, e fazendo isso com base na excelente posição competitiva da Groupauto Unión Ibérica (GAUIb)”.
